Com a recente chegada da exposição da dupla Os Gêmeos em Curitiba, percebi uma certa movimentação e euforia para a visita e apreciação das obras desses supostos artistas. A partir disso, me vieram algumas reflexões que são de fato óbvias, mas que muitos estão cegos para as enxergar.
Primeiro, Os Gêmeos não são artistas e as suas obras não são obras de arte. Ou seja, nada que saiu dali até hoje pode ser chamado de arte. Depois, pode vir o questionamento: mas mesmo sabendo que não é arte, posso gostar mesmo assim? Existe algum problema em gostar das obras de Os Gêmeos? Os dois pontos acima gostaria de esclarecer neste texto.
Ponto um: Os Gêmeos não são artistas.
A arte, como tudo que existe, possui uma finalidade. Toda as coisas possuem essência e finalidade, sendo que esta finalidade faz parte da essência daquela coisa, ou seja, a finalidade faz com que de certa forma aquilo mesmo seja o que é. Vamos ao exemplo, uma cadeira é reconhecida como cadeira porque possui certas características percebidas pela nossa sensibilidade, somada à finalidade dela que é a de acomodar alguém sentado. Quando uma cadeira está com um pé quebrado, por exemplo, e não se consegue se sentar nela, é uma cadeira inútil. Ela continua sendo uma cadeira, pois sua essência está preservada, mas por estar quebrada não cumpre plenamente com sua finalidade, e por isso se torna inútil para seu fim até que seja consertada.
A arte, então, tem também sua finalidade, e esta é revelar o belo. O belo, aqui, deve ser entendido pelo belo transcendental, que vem acompanhado do bom e do verdadeiro. Agora voltemos nossos olhos às obras de Os Gêmeos: não são belas. A finalidade delas não é fazer com que o espectador transcenda o mundo material por meio da beleza, mas, sim, outra. Não há melhor argumento do que a própria realidade, e para se certificar do que estou falando aqui, basta olhar para qualquer obra de Os Gêmeos.
Estando claro esse ponto, passemos para o próximo. Por que, então, são chamados de artistas se o que fazem não é arte de verdade?
Ponto dois: Por que são chamados de artistas se não fazem arte.
Vivemos numa revolução cultural. Desde a Reforma Luterana, a Tradição vem sendo perseguida. O que era óbvio na Idade Média, como que as coisas possuem forma e matéria, essência, os conceitos (os nomes que damos às coisas se referem à conceitos que por sua vez se referem à própria realidade), entre outros são verdades que foram sendo atacadas por tantos lados que se tornaram obscuras. Hoje vivemos um nominalismo, ou para falar de forma mais simples, um relativismo. A cultura da nossa época nos faz crer que não existe verdade universal, que os nomes que damos às coisas são somente nomes que se referem apenas ao nosso próprio pensamento e não à realidade etc. Portanto, o que é arte para a nossa época? Não importa, pois para essa situação de revolução cultural, não existe uma verdade para a palavra arte, ela pode significar qualquer coisa que cada um queira que ela signifique.
A arte no mundo inteiro, e especialmente no Brasil, se tornou sinônimo de luta política e social. Ou seja, querem destruir a Tradição, os valores, a família, a beleza, a verdade… e usam a arte para tanto. Os Gêmeos são somente mais um em meio tantos artistas que propagam essa visão do que é a arte. Um instrumento não a favor da transcendência do ser, mas à favor da destruição da Tradição.
Obras de pessoas assim não deviam jamais estar expostas em museu. Subverteu-se a palavra arte, subverteu-se a própria arte, e subverteu-se os museus! Os museus de arte são reservados à arte, nada mais. Algo como Os Gêmeos não deveria nunca estar exposto em museus, que é o que tem acontecido no Brasil e no mundo. Isso faz com que cada vez mais vá se normalizando a falta de sensibilidade à respeito do que é arte de verdade, e consequentemente do que é belo e também consequentemente do que é Deus! Chegamos a um ponto crucial do nosso texto, que é meditar se então tem problema ou não gostar de Os Gêmeos, frequentar os museus com exposições desse gênero, mesmo sabendo que não são arte. Vamos lá.
Ponto três: Há problema em gostar de Os Gêmeos mesmo sabendo que não é arte?
O que é gostar, afinal? Entremos nessa discussão filosófica muito necessária a esta explicação. O gosto é uma faculdade da mente que é afetada pela imaginação e belas artes e que toma juízo delas. As informações do mundo entram pelos nossos sentidos, ficam armazenadas na nossa imaginação pela memória, e nossa capacidade de raciocínio funciona em cima desse armazenamento para chegar à conclusões a respeito do que é experimentado. Daí saem nossos gostos, gostar disto e não daquilo, preferir isto e não aquilo outro e assim por diante.
Os gostos que possuímos funcionam em cadeia. Quando gostamos de algo, tendemos a procurar aquele algo em seus semelhantes. Ao longo da vida, vamos juntando várias imagens mentais e juízos, amontoando-os, e em cima deles montamos nosso raciocínio a respeito das coisas do mundo. Se fomos, por exemplo, criados numa casa em que os móveis da sala eram dispostos de uma forma “x”, ao adentrar outros ambientes de sala ainda quando crianças, comparamos aquele ambiente com a sala que já conhecemos, formando juízos a respeito do que é melhor: a disposição dos móveis é melhor aqui ou lá? As cores ficam agradáveis mais assim ou como lá? A tudo isso se junta as experiências adjuntas que vamos presenciando naqueles locais, além da procura natural pelo bom, belo e verdadeiro. A partir dessa experiência, o gosto entra ação — gosto mais como aqui, gosto mais como lá.
Pronto, o gosto então vai se formando dentro de nós. Quando vamos, a seguir, escolher algo para nós mesmos, todo esse padrão de gostos vem à tona, e escolhemos para nós aquilo que pela nossa experiência, juízo e raciocínio vimos que é melhor. Muitas vezes, muitas mesmo, o gosto pode se equivocar. Então surge o mau gosto. Ele pode aparecer porque não temos referências suficientes para avaliar bem a realidade por conta de diferenças entre nossa sensibilidade e capacidade de raciocínio, ou porque não demos a devida atenção ao objeto de gosto.
Voltemos então ao assunto principal: se gosto de Os Gêmeos, o que isso significa? Significa que seu juízo está escolhendo eleger como bom algo que quer na verdade acabar com a noção de que existe algo bom, de que existe beleza e de que existe verdade! De modo mais simples, você está escolhendo gostar de obras que servem justamente para prejudicar seu gosto, sua sensibilidade e sua inteligência, uma vez que vão contra a própria natureza do ser.
Isso implica que quando você for escolher algo para si próprio — seja de matéria moral, física, espiritual, o seu gosto por algo destrutivo não será em vão! A sua alma irá escolher de acordo com aquilo que você julga bom, e se você julga bom algo destrutivo, preciso dizer que sua escolha será justamente algo ruim para si?
Veja bem, nada do que fazemos passa impune dentro de nós. Nossa alma é uma esponja. Gostar de Os Gêmeos irá, sim, prejudicar sua inteligência e sensibilidade, está mais do que provado. Há muita coisa boa para se gostar por aí que elevarão de fato nossas faculdades aquilo que mais importa, temos o dever de não desperdiçar nossos dons com modismos e gostos impensados. Tenhamos bom gosto e sejamos então pessoas de alma íntegra e capazes de conhecer a verdade.
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